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Foto do escritorMariana Kneipp

Grávida sem sintomas. E, sim, está tudo bem


Antes de mais nada, queria começar deixando 100% claro que, de maneira nenhuma, tenho qualquer intenção de desmerecer ou menosprezar mulheres que não se sentem bem com a gravidez, que amam seus bebês, mas que passaram por meses terríveis devido a sintomas da gestação. Eles são reais, e todas devem ser tratadas com o máximo respeito e admiração por superarem seus piores dias.


Eu, no entanto, não sou uma dessas mulheres. E, por algum tempo, também me senti mal. Justamente pelo contrário.


Já estou entrando no quinto mês de gestação e não tive nenhum sintoma ruim. Nem um dia sequer de enjoo, dor no seio, cólicas, desânimo. Nada. A única diferença que notei com a gravidez foi o sono mais cedo à noite. Porém, para alguém que sempre teve problemas para dormir, adormecer às 22h até que foi uma benção.


Muitas podem dizer que sou privilegiada e, de certa forma, me sinto realmente. Mas, como eu disse, ainda assim, me senti mal. Me senti mal por não me sentir mal. Que ironia, não?

Faça um favor: pense em quantas mulheres você conhece que relataram uma gravidez sem sintomas? Busque na Internet sobre o primeiro trimestre e veja o resultado. 99% dos textos online ou de experiências que chegaram a você, provavelmente, foram de sintomas que impactaram negativamente a rotina, de alguma forma.


Isso quer dizer que eu sou a primeira grávida no mundo a não ter sintomas ruins no início da gestação? Com certeza, não. Então, por que é tão difícil encontrar as outras?


E eu digo isso como um apelo. Porque eu, que havia dois anos desejava engravidar, quando aconteceu, me vi criando cenários catastróficos na minha cabeça simplesmente porque eu não sentia nada. Somente quando questionei a minha obstetra sobre isso, em um tom lotado de preocupação, e recebi a resposta "Não há nada errado. Você simplesmente está saudável e seu organismo reagiu bem à mudança hormonal" é que eu consegui, enfim, viver a plenitude da minha felicidade.


Porque, antes disso, tudo o que vinha na minha cabeça eram relatos de amigas, cenas de filmes, buscas online, sobre como terrível seria o primeiro trimestre. E, dias passavam, e nada acontecia. E a ansiedade aumentava. "Se eu não estou sentindo nada, será que está tudo bem mesmo? Quando chegar a ultra, o bebê estará bem?".


Eu só queria que alguém me dissesse que não sentir nada era normal. Não que respondesse: "Ah, espera para você ver na próxima semana. Vai acontecer". Não acontecia. E, em vez de eu ficar feliz por estar bem, eu continuava me questionando se o problema não era comigo, porque todo o tempo alguém me perguntava como eu estava me sentindo, já esperando um lamento, que eu não tinha. A minha resposta sempre era encarada com espanto e/ou dúvida, e isso incomodava. Muito.


Foram longos dias até a primeira ultra. Mas, quando conversei com a obstetra e ouvi o coraçãozinho dele batendo a 160 por hora, saudável e já com o formato de um bebê, tudo sumiu. Qualquer preocupação ou medo pela falta de sintomas se dissipou. E eu entendi o que realmente estava acontecendo. Eu havia caído na armadilha.


Durante muito tempo, mulheres foram doutrinadas a serem mães. Esse era o único objetivo da vida delas. Era o momento de atenção, um dos únicos em que eram tratadas como especiais. Como a imensa maioria sentia sintomas ruins no início da gravidez, quem não sentia, guardava em silêncio, até mesmo inventava que sentia, por medo ou vergonha de serem "menos mães", caso contassem a verdade.

Para o patriarcado, era muito conveniente também. Imagine se a mulher não tivesse nenhum empecilho para trabalhar durante os nove meses. Se não tivesse que adiar reuniões ou sair de um compromisso pela manhã para vomitar. Isso as colocaria em igualdade, ou melhor, superioridade, pois fariam o que eles faziam enquanto geravam uma vida. Pois é. Não era o que queriam, não é mesmo? Era muito melhor cultivar a cultura da gravidez mobilizante.


O tempo passou, as coisas começaram a mudar, mas o pensamento de algumas mulheres, mesmo inconsciente, permaneceu. "Não estou sentindo nada? Devo estar com algum problema". Não, não está. Pelo contrário, como a medicina descreve, seu organismo respondeu bem à mudança hormonal e, em um mundo ideal, todas as mulheres deveriam se sentir assim. Infelizmente, por inúmeras razões, muitas não se sentem, o que também não é motivo de preocupação, até um limite.


A grande questão aqui é que cada mulher tem uma gestação diferente. A #MaternidadeReal tem diversas interpretações válidas. Muitas vezes, a mesma mulher, que tem mais de um filho, tem diferentes experiências. E não há nada errado nisso. Não caia nessa armadilha.

Errado é ficar se comparando. Errado é viver pela expectativa da sociedade. Errado é não sentir o que se está sentindo e não exigir respeito porsso. Errado é se silenciar. Errado é não viver o seu momento único como a experiência mais transformadora da sua vida. Errado é não ser você.


Bem-vindo, Dudu. Mamãe já te ama muito.

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