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Foto do escritorMariana Kneipp

Por que não votarei em Simone Tebet



Muitas pessoas estão me perguntando o porquê de eu não votar em Simone Tebet. "Ela é mulher", uns dizem. "Ela defende os direitos da mulher", completam. "É a única opção viável", alguns ainda finalizam. Pois bem. Então, por que será que eu, que me defino como feminista, não votarei na candidata do MDB para presidente? Curiosamente, todos os elementos da resposta estão exatamente nesta pergunta.


A primeira coisa que eu gostaria de ajudar a clarificar é que o feminismo não prega a defesa cega de todas as mulheres. Feminismo não é sobre "sermos todas amigas". Não subestime o movimento.

Feminismo é a luta pela equidade social, política e econômica entre homens e mulheres. Essa luta passa, sim, por sororidade, mas não pela necessidade de passar por cima de valores para apoiar outras mulheres. É justamente o contrário. É sobre ter escolhas, opções, voz para discordar.


Dito isso, confesso que me incomoda o fato de a candidata à Presidência da República, Simone Tebet, fazer de um de seus principais slogans a frase "Mulher vota em mulher". Ela que critica tanto o "Nós contra eles", não deveria promover provocação tão semelhante. Não há necessidade de instigar a exclusão. O projeto feminista é sobre inclusão. A candidata deveria saber disso.


Simone Tebet se declara "feminista de centro". Difícil acreditar sendo ela contra pautas tão importantes para o movimento. Em entrevistas e debates, a candidata defende temas importantes, como o combate ao feminicídio e maior participação da mulher no mercado de trabalho, mas convido a um olhar mais atento não às suas falas, mas às suas atitudes: sendo da bancada ruralista, Simone Tebet vota e faz vista grossa para decisões que atingem mulheres indígenas (demarcação de terras) e que vivem da agricultura no país. Também votou a reforma trabalhista e a PEC do Teto de Gastos, sem atenção à Economia do Cuidado, gerando um impacto imenso em mulheres que tiveram que sair do mercado de trabalho na pandemia e não conseguiram mais retornar. Além de ser contra o aborto por "ser cristã". Aborto não é uma questão religiosa. É saúde pública, com milhares de mulheres morrendo devido a cirurgias clandestinas.


Outro ponto importante é que Simone Tebet votou a favor do impeachment de Dilma Rousseff. Aqui não entro em julgamento de valor sobre a validade do impeachment, mas onde está o "mulher vota em mulher" nesse momento, candidata?


A inconsistência entre discurso a favor das mulheres e essas atitudes já inviabilizariam meu voto. Mas vamos continuar.


Simone Tebet é candidata do MDB. Centrão. Partido do ex-presidente Michel Temer, do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha e do senador Renan Calheiros. MDB tem um claro histórico de promiscuidade, tendendo a quem lhe favorece mais. Mas não há como negar que tem grandes estrategistas também. Se usassem a inteligência política para o bem, fariam muito pelo país. Não é o que acontece.


Seguindo o tom do partido, Simone Tebet está sendo estrategista, falando para o público feminino.


As pesquisas mostram que são as mulheres que vão decidir essas eleições. Então, trazer para a ponta da língua frases impactantes sobre luta feminina e se chamar de "guerreira" em seu jingle de campanha está longe de ser uma manifestação feminista. É estratégia. Rasa e facilmente contestável, mas estratégia.

Tebet não é unanimidade nem dentro do próprio partido. Renan Calheiros declarou oficialmente que queria que o MDM não lançasse candidato e apoiasse Lula. Ou seja, se for eleita, a candidata, que critica o governo Bolsonaro, está tirando votos de Lula e não tem o apoio interno de seu partido, tende a ficar isolada e ter grande dificuldade em governar.


Lembra alguém? Pois é. Qual seria o custo de ter uma segunda presidente mulher com um governo marcado por conflitos e diminuição de sua voz? Não estou comparando Dilma Rousseff com Simone Tebet, não entenda mal. Estou comparando duas mulheres na Presidência da República.


Após o impeachment, ter um governo liderado por uma mulher sem força política seria extremamente prejudicial a candidaturas futuras. A questão é muito séria. Estamos falando de consequências, de legado, de um país que tem somente 33% de mulheres candidatas a um cargo político, e de uma democracia frágil depois de um governo fascista, que não pode arriscar viver uma nova saída antecipada pelos fundos do Palácio do Planalto.

Quero mais mulheres na política. Quero ver o Brasil liderado por alguém com valores feministas. Alguém que luta pelos direitos das mulheres. Alguém que respeita o movimento feminista. Essa não é Simone Tebet.




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2 Comments


vivianirj
Sep 22, 2022

Perfeita análise, Mariana. Partilho de sua opinião. Obrigada por esse texto. Bjs,

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Mariana Kneipp
Mariana Kneipp
Sep 22, 2022
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Muito obrigada pela leitura e pelo carinho de deixar o comentário!

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