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Foto do escritorMariana Kneipp

Thais Vojvodic: aliança entre carreira e propósito com foco em impacto social


O cavalo-marinho tatuado no braço reverencia a sua paixão pelo mar e a lembra diariamente que o caminho escolhido não é o de multidões. Assim como o peixe que nada, na maioria das vezes, sozinho, Thais Vojvodic decidiu deixar o lugar-comum e se arriscar em busca de algo muito maior: aliar trabalho e propósito. A carreira promissora de marketing deu lugar à consultoria sobre economia circular depois de uma jornada que começou em uma viagem de voluntariado na África. Há pouco mais de uma década, saía de cena a publicitária de São Paulo e entrava a...

- Me intitulo como intraempreendedora, porque tenho a chance de empreender socialmente dentro de uma coorporação.

Thais confessa que “demorou a entender o que queria ser quando crescesse”. Entrou no mercado de trabalho pela área de marketing de grandes empresas, como Revlon e Baccardi. Mas, quando estava no programa de trainnee da Danone, algo começou a acontecer.

- Eu queria muito trabalhar em empresas grandes, mas, confesso que fico feliz de não ter gostado, porque foi assim que me chacoalhei e vi que não era onde eu queria estar. Não me enxergava ali. Eu tinha uns 21, 22 anos, e não queria ser igual a ninguém que trabalhava comigo. Foi aí que eu entendi que eu não precisava seguir um caminho único, linear, que eu poderia mudar. Quando somos novos, achamos que tudo é para sempre. Eu me dei essa chance, de não ter que ser pra sempre.

Quando refletiu sobre o que realmente queria, Thais começou a economizar dinheiro para fazer a mudança de vida que gostaria, mas também a fazer cursos de filosofia, aulas de música, entre outros estímulos que a ajudaram no momento de transição. Até que, um dia, decidiu ir a uma feira de intercâmbio e encontrou seu primeiro passo.

- Era uma das tendas mais tímidas, mas estava escrito “Seja voluntário na África”. Aquilo me pegou. Era o que eu queria fazer. Desconectar de tudo que entendo por normal e ver o que acontece em outros lugares do mundo. O programa era de um curso de três meses na Inglaterra, com trabalho social na África. Fui. Morei 8 meses no Quênia, mais aprendendo do que contribuindo . Mudou minha vida drasticamente. Desde os 12 anos, sempre fiz trabalho voluntário, mas jamais tinha pensado nisso como carreira. Ali, abri meu olhar e entendi melhor como o mundo funciona. Foi quando comecei a ler sobre impacto e desenvolvimento social e sobre o terceiro setor.

Thais lembra que a vontade de ficar no Quênia era grande. Lá, começou a namorar um queniano e não via mais conexão com a vida que levava no Brasil. Tinha virado “meio hippie”, como ela mesma se definia. Decidiu voltar, mas não a sua antiga rotina.

- Quando eu decidir ir para a África, eu saí da Danone. Foi muito difícil, pedi muito apoio e validação da minha família, de que eu não estava louca. Depois que essa primeira decisão deu certo, nada foi tão radical. Voltei, e a certeza que eu tinha era de que eu não queria fazer nada do que eu fazia. Queria trabalhar com impacto social. Mas, há cerca de 12 anos, não existia esse mercado.

Depois de três meses procurando algo que a conectasse com o seu propósito, Thais confessa que quase chegou a desistir. Foi quando surgiu a oportunidade de trabalhar na Sitawi Finanças do Bem, uma organização social de interesse público pioneira no desenvolvimento de soluções financeiras para impacto social e na análise de perfomance socioambiental de empresas e instituições financeiras. Mudou-se para o Rio de Janeiro, deixando a família em São Paulo, com um salário que era metade do que ela ganhava como trainee da Danone.


- Tracei minha carreira sem ter muito medo de arriscar. Optei por não colocar dinheiro como minha primeira prioridade na vida. Não é o que me move. Claro que sei que não são todas as pessoas que podem fazer isso. Mas eu sou pouco apegada, gosto de tomar riscos.

Thais havia se encontrado, conseguido aliar o lado profissional e pessoal em um único lugar. Estava satisfeita e não buscava mudanças naquele tempo. No entanto, dessa vez, não era ela que iria buscar novos caminhos. Era a oportunidade que iria atrás dela.

- Uma ex-secretária da Sitawi estava trabalhando na Coca-Cola e ouviu que eles estavam procurando uma pessoa com um perfil muito específico para trabalhar em um projeto de capacitação de jovens em comunidades. Primeiro, quando ela me falou que era na Coca-Cola, eu disse: “De jeito nenhum!”. Mas quando entendi qual era o projeto, me apaixonei pela ideia.

Na Coca-Cola, Thais entrou como Especialista de Impacto Social e liderou a criação do Coletivo Jovem, programa de capacitação e desenvolvimento profissional de jovens de comunidades de baixa renda. Hoje, dez anos depois, a iniciativa está em mais de 134 comunidades no Brasil e já impactou quase 250 mil jovens.

Após pouco menos de três anos, Thais foi convidada para trabalhar no Instituto Coca-Cola Brasil, onde liderou a operação de projetos com catadores de materiais recicláveis, mais um dos momentos mais transformadores de sua percepção de mundo.

- Um dos pontos que o núcleo de educação desenvolveu para os catadores foi o pensamento da autoestima, como promover isso em uma pessoa mais vulnerável. No primeiro dia, eles ficavam olhando para baixo. Não acreditavam neles mesmos. Lembro muito dessa cena. Depois de passar pelo processo de empoderamento e entender que o melhor deles estava dentro deles mesmos, voltavam para ter a mesma conversa, mas agora com olho no olho, super confiantes, apresentando seus resultados. Foi uma coisa muito impactante, ajudar a potencializar quem eles mesmos eram.

O projeto com os catadores foi o primeiro contato mais profundo de Thais com o tema de economia circular, que seria seu próximo passo, então deixando o Instituto Coca-Cola e retornando para o corporativo da Coca-Cola, como gerente de sustentabilidade. Na posição, liderou uma conversa que muitos achariam impossível: a parceria da Coca-Cola com a Ambev na criação do “Reciclar pelo Brasil”, maior programa de reciclagem inclusiva do país, que, hoje, envolve mais de 15 empresas e mais de 220 cooperativas.

- Um dos maiores ganhos para mim foi ver a área corporativa se posicionando de forma vulnerável. Mudar a chave da narrativa. Entender que uma companhia pode encarar seus problemas de frente, que existe, sim, uma vontade genuína de diminuir o impacto no mundo. Antes, as narrativas de grandes corporações eram sempre sobre negar e se vender. A Coca-Cola está na vanguarda. Eu representava a empresa em eventos ambientalistas e só levava porrada, mas não tinha nada de que eu não pudesse falar de forma transparente, de forma muito confortável.

Confortável também era a palavra do momento no início de 2020. Porém, a oportunidade de realizar um sonho em uma organização que sempre foi sua referência em projetos de impacto social e ambiental falou mais alto. A pandemia já havia começado, quando Thais decidiu pedir demissão da Coca-Cola, deixar o Brasil e ir morar na Inglaterra, a convite da Fundação Ellen MacArthur, referência mundial em economia circular.


- Era um passo que eu queria muto dar. O Brasil está excluído das decisões mundiais, muito periférico com relação a para onde o mundo está indo. Eu tinha uma vontade muito grande de estar onde as pessoas estão pensando no que vai acontecer. O tema de sustentabilidade, a vanguarda do pensamento, está lá na Europa. Voltei a ser uma esponja. Aprendi em três meses mais do que aprendi nos últimos três anos. Na Coca-Cola, eu já era ouvida, liderava em uma posição confortável. Agora, eu voltei a correr atrás. Saí da zona de conforto para a zona de aprendizado.

Hoje, Thais trabalha desenvolvendo acordos voluntários entre stakeholders de países diferentes que estejam alinhados com a economia circular do plástico. Atualmente, atua em pactos nos Estados Unidos, África e Brasil. Sua ideia é, no futuro, voltar para casa e aplicar todo o conhecimento que está adquirindo, mas de forma autônoma. Tem vontade, inclusive, de se aprofundar na política pública brasileira, onde acredita que teria um forte impacto.

E, para quem gostaria de seguir o caminho de aliar trabalho e propósito, Thais aconselha a estudar. Ler bastante sobre os assuntos que se interessam. Mas, principalmente, refletir sobre uma mudança interna.

- As grandes questões sociais e ambientais que o mundo enfrenta hoje são muitíssimo complexas e, para quem pretende trabalhar com impacto, não basta uma boa intenção. É necessário compreender de forma mais profunda os sistemas, como funcionam as cadeias produtivas, quem toma as decisões, para que, aí sim, você consiga se posicionar como agente de mudança. Cada vez mais eu sei que eu sei menos. Eu era uma pessoa de muitas verdades, muito categórica. Agora, eu sei muito mais do que sabia antes, mas sei também que sei muito menos. Essa consciencia é muito importante para estar aberta a ouvir. Como porta-voz de grandes corporações, eu sempre falei sobre ouvir ativamente, não ter todas as respostas, ter perspectivas diferentes. Digo o mesmo para mim mesma agora.



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